segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Extinguir

What Else is There?, de Röyksopp:



"I am the storm, I am the wonder
And the flashlights, nightmares
And sudden explosions
..."

Estava lendo em meu quarto, jogada na cama. Terra Sonâmbula do Mia Couto teimava ficar entre minhas mãos. O computador emitia uma luz azulada e Morning Glory do Jamiroquai.

Meus pais assistiam à televisão na sala; podia escutar qualquer burburinho. Ouvi passos aflitos. Bateram à porta. Minha avó dizia desesperadamente que o Sol ia explodir.
- Como?! Mas isso não tem como acontecer!
- Olhe o noticiário!
Decidi deixar o livro ao lado do abajur com formato de Saturno e finalmente saí do quarto. Todos os canais mostravam o Sol inchado, vermelho-laranja. Voltei e abri a janela do meu espaço. O céu não era mais azul e a estrela estava colossal.
Atravessei o quarto correndo, desejando a sala. Meus pais estavam no corredor, entre os dois ambientes. As lágrimas escapavam dos meus olhos como águas de uma comporta recém-aberta. Senti que morreria naquele momento e tentei dar minhas mãos a eles para que morrêssemos juntos e com breve conforto.

Não consegui alcançar nem seus dedos.




Acordei.

Sunrise by the Ocean, de Vladimir Kush

Um comentário:

Thiago Macek disse...

Isso me lembra de um episódio. Na chácara de um amigo meu, dormimos um dia todos na sala, 6 pessoas. Antes de dormir, um filme. Antes do fim do filme, o sono; ficamos só eu e um amigo acordados. Depois que desligamos tudo, outro de nós levanta de sopetão, parecendo assustado. Com todas as luzes apagadas e uma lua extremamente tímida do lado de fora das janelas, não havia a mínima chance de ver seu rosto, mas mesmo assim ele parecia definitivamente assustado, e talvez um pouco irritado.

"Apaga", ele disse. Entreolhamo-nos, eu e o outro acordado, indagação estampada.

"Apaga, meu... apaga!", o recém-levantado falava, parecendo se irritar ou desesperar mais. Decidimos nos aproximar, tentar ver do que se tratava. "Apaga o quê, Gil?? Tá mó breu!"
"Apaga, mano! Apaga isso!"
"Isso o quê? Não to nem te vendo!"
"O Sol!"
"Quê??"
"O Sol! Apaga esse Sol! Apaga, mano, por favor!"
"..."

Ficamos os dois ali por um longo instante, boquiabertos (imagino. Eu fiquei, não via meu amigo). Então, do mesmo jeito que havia levantado, o outro soltou um suspiro e desfaleceu na cama novamente, virado para o outro lado.

A noite da mente trás alguns momentos únicos. Seria interessante poder lembrá-los, mais, explorá-los, os nossos e os dos outros =)